Últimas Notícias

Aos 70 anos, Cyndi Lauper prepara turnê de despedida sem abrir mão de sua essência

 

Numa tarde de sexta-feira de maio, Cyndi Lauper saiu de seu prédio no Upper West Side e foi para as ruas da cidade de Nova York. Ela usava óculos incrustados de glitter, tênis com sola de arco-íris e uma pilha de pulseiras de contas em cada braço. Uma sombrinha de papel de arroz balançava em sua mão. Enquanto caminhava, ela examinava a multidão e notava quando lampejos de interesse atraíam sua atenção.

“Claro, aqui é um inferno da moda”, ela disse sobre sua vizinhança elegante. E ainda assim, a cada poucos quarteirões, ela ficava atenta ao olhar de outra mulher, seu famoso sotaque de "New Yawk" (como os nova-iorquinos foneticamente pronunciam o nome da cidade) delirando de prazer com o que via:

— Olhe para essas senhoras; não são fofas? Você amou essas calças? Eu meio que amei aquelas calças.

“Olhe para esta senhora”, disse ela, saindo do meio-fio e avistando uma transeunte. A mulher se movia com agilidade, mechas vermelho-tomate em seus cabelos prateados, corpo envolto em tons de fúcsia e cereja enquanto empurrava a estrutura de metal brilhante de um andador. “Fabuloso”, exclamou a cantora.

Aos 70 anos, o ícone pop e ativista não está apenas voltando às ruas. Em 3 de junho, Cyndi Lauper anunciou sua última turnê, a "Girls Just Wanna Have Fun Farewell Tour", que terá suas principais arenas em toda a América do Norte do final de outubro ao início de dezembro. (Em 20 setembro, ela subirá ao Palco Mundo com o show da turnê, no dia inteiramente dedicado às mulheres, com Katy Perry como headliner). E “Let the canary sing”, um documentário sobre sua vida e carreira que estreou no Tribeca Festival no ano passado, e entrou no catálogo do Paramount +.

Cyndi Lauper não realiza uma grande turnê – “Uma turnê de verdade, essa é minha” – há mais de uma década. Mas agora sua janela de oportunidade está se fechando, então ela está aproveitando:

— Acho que não conseguirei ter o desempenho que desejo em alguns anos. Eu quero ser forte.

E até recentemente, quando ela finalmente concordou em trabalhar com a diretora Alison Ellwood, ela não conseguia imaginar a história de sua vida filmada.

— Não ia fazer um documentário porque não estou morta — disse ela, para quem sua essência está no clipe de "Girls just want to have fun”, de 1983. — Tudo o que eu queria que eles (seus fãs) entendessem estava naquele vídeo.

Ela tem muitas pessoas que a entendem: o clipe foi visto no YouTube mais de 1 bilhão de vezes. Quarenta anos depois, ela o defende como uma tese, chave para decodificar a sua perspectiva artística e compreender tudo o que se seguiu.

Inspiração nos Beatles e Yoko Ono

Nascida no Brooklyn, criada no Queens, Cyndi andava pela casa ao som das músicas dos Beatles, com sua irmã mais velha, Elen, cantando os trechoes de Paul McCartney e ela, os de John Lennon. Foi sua primeira lição de harmonia e estrutura musical. Mas quando ela saiu de casa, aos 17 anos, estava com um exemplar do livro de arte conceitual feminista de Yoko Ono, “Grapefruit”, nas mãos.

Ono ensinou a ela que “Você pode criar arte em sua cabeça e então ver as coisas de maneira diferente". Essa atitude lhe serviu bem quando ela tentou (e muitas vezes falhou) trabalhar como pintora, vendedora de sapatos, garçonete do IHOP e cantora em uma banda cover.

Cantando músicas de outras pessoas em clubes e bares de Long Island, Lauper lutou para encontrar seu lugar. Ela tentou canalizar Janis Joplin, mas "Estava presa dentro do corpo dela e ela não gostou e eu também não gostei", conta. Ela tentou soar como Gene Pitney, e "acabou soando como Ethel Merman". Depois de um tempo, "você começa a sentir que não é bom o suficiente".

Na verdade, ela não era boa em ser outra pessoa além de Cyndi Lauper. Quando começou a escrever e fazer arranjos para si mesma, “com histórias que conhecia sobre as mulheres que conhecia", eles a guiaram de volta aos ritmos de sua própria vida, mesmo que, no início, poucos estivessem interessados ​​em ouvir.

O título do documentário é uma frase retirada de um drama de tribunal da vida real: No início, a carreira de Lauper se envolveu nas ambições de um ex-empresário, que a processou para manter o controle de sua música. Ela afundou na falência tentando escapar dele. Quando o juiz ficou do lado de Lauper, ele bateu o martelo e disse: "Deixe o canário cantar" (em tradução livre).

A MTV ainda estava em sua infância em 1983, quando o álbum de estreia de Cindy, "She's so unusual”, foi lançado. Ela via sua imagem pública como uma forma de arte visual. A cantora parecia alcançar a fama como um ícone feminista totalmente formado. Ela se recusou a dizer sua idade aos entrevistadores (“Eu não sou um carro”, disse na época) e insistiu que eles reconhecessem a política por trás de suas escolhas estéticas. Ela apareceu na capa da revista feminista "Ms." e gravou a música “True colors”, de 1986, após a morte de um amigo por Aids.

— Sei que provavelmente perdi oportunidades porque falei muito sobre a Aids. Mas eu deveria me defender como qualquer bom italiano e defender minha família, sabe?

Em 2008, ela fundou a True Colors United para ajudar a combater a falta de moradia entre os jovens LGBTQIAP+. E em 2022, ela criou o fundo Girls Just Want to Have Fundamental Rights para apoiar o acesso ao aborto e outros movimentos de justiça reprodutiva.

Fonte;globo.com

Nenhum comentário