Quem é o surfista de 22 anos que freou, do computador de seu quarto, o ciberataque mundial?
Leia a 1ª entrevista de MawareTech: um garoto tímido que vive na
casa dos pais no litoral da Inglaterra. Sua mãe, enfermeira, quis 'gritar para
o mundo'; ele diz que 'não é herói'.
Marcus Hutchins, que se apresentava nas redes sociais como MalwareTech
(Foto: AP Photo/Frank Augstein)
Enquanto o gigantesco ataque de um “vírus de resgate” corria de
computador para computador, infectando dezenas de milhares de
máquinas em todo o mundo, um especialista em tecnologia trabalhava
em seu quarto na Inglaterra para interromper o desastre. Mas Marcus
Hutchins não se considera um herói.
Quem é o craque no contra-ataque ao vírus?
O jovem de 22 anos, creditado como a pessoa que interrompeu o
WannaCry, disse à agência de notícias Associated Press que luta
contra os “malwares” porque "é a coisa certa a se fazer”.
Foi a primeira entrevista presencial de Hutchins, que trabalha para
a Kryptos Logic, empresa com sede em Los Angeles.
"Eu definitivamente não sou um herói", reafirmou. "Sou apenas
alguém fazendo minha parte para parar os botnets (aplicativos
maliciosos que se espalham em redes)."
Surfista que vive com a família
Nas primeiras horas do ciberataque, na sexta-feira (12), o entusiasta de
computação e surfista, que vive com sua família em uma pequena cidade
litorânea no sudoeste da Inglaterra, fez uma descoberta acidental: o registro
de um endereço na internet era capaz de interromper o surto.
Ele passou os três dias seguintes lutando contra o vírus que
prejudicou os hospitais públicos da Grã-Bretanha, além de fábricas,
agências governamentais, bancos e outros negócios em todo o mundo.
O WannaCry paralisou computadores com versões mais antigas do
Microsoft Windows, criptografando arquivos de computador dos usuários
e exibindo uma mensagem exigindo um resgate de US$ 300 a US$ 600
para liberar.
Hutchins disse que achou a solução quando estava analisando uma
amostra do código mal-intencionado e percebeu que estava vinculado
a um endereço da web não registrado. Ele registrou o domínio. Ele
costumava fazer isso para descobrir maneiras de rastrear ou parar
ameaças cibernéticas. Após o registro, ele descobriu que impediu o
vírus de se espalhar.
‘Salvou os EUA’
O executivo-chefe da Kryptos Logic, Salim Neino, disse que o
rápido trabalho de Hutchins permitiu que ele retardasse o vírus
na sexta-feira à tarde, antes que pudesse afetar completamente
os Estados Unidos.
"Marcus, com o programa que dirige no Kryptos Logic, não só
salvou os Estados Unidos, mas também impediu novos danos
ao resto do mundo", disse Neino em uma entrevista em Veneza,
na Itália. "Depois de pouco tempo, conseguimos validar que houve
realmente uma interrupção no vírus. Foi um momento muito emocionante."
Neino disse que o vírus foi "mal projetado" – um remendo "de diferentes
partes", com um sistema de pagamento simples.
‘Time’ no contra-ataque
A Kryptos Logic é uma das centenas de empresas que trabalham
para combater ameaças online para empresas, agências
governamentais e indivíduos pelo mundo. Além disso, Hutchins faz
parte de uma comunidade global que constantemente observa
ataques e trabalha para frustrá-los, muitas vezes compartilhando
informações no Twitter.
Não é incomum que os membros usem apelidos para proteger de
ataques de retaliação e garantir privacidade. Hutchins usa o Twitter
há muito tempo sob o nome MalwareTech, que apresenta uma foto
de perfil de um gatinho cheio de pose, usando óculos de sol enormes.
Mas ele sabe que sua fama recém-descoberta significa o fim
do anonimato.
"Eu não acho que vou voltar a ser o MalwareTech que todo
mundo conhecia", disse o jovem de cabelos crespos, encolhendo
os ombros e dando um sorriso vencedor.
Mãe enfermeira e coruja
A mãe de Hutchins, Janet, uma enfermeira, não podia estar mais
orgulhosa. Ela ficou feliz com o fim do anonimato. Quando seu filho
fez a descoberta, ela queria contar ao mundo sobre isso.
"Eu queria gritar, mas eu não podia", disse a mãe.
Agora, ele é uma celebridade. O jovem esteve em contato com o
FBI e com autoridades britânicas de segurança cibernética.
Do quarto no litoral
Sua nova vida provavelmente vai precisar de um grande ajuste.
Hutchins trabalha em seu quarto em Ilfracombe, no litoral sudoeste
da Inglaterra, em um computador sofisticado com três telas grandes.
O conceito de celebridade era estranho para ele.
Ele estava nervoso em dar uma entrevista. Os jornalistas receberam
o endereço minutos antes de começar, e tiveram que fornecer uma
senha antes que Hutchins os deixasse entrar. Enquanto fazia um teste
de som para a câmera, estava tão ansioso que mal escreveu seu
sobrenome, dando-o como Hutchis, sem o "n ". Sua mãe fez chá e café
para os visitantes.
Uma vez que Hutchins começou a falar, ele relaxou. Constantemente
sorrindo, se mostrou tímido e educado, e feliz em explicar como ele luta
contra o malware. Ele disse que estava ansioso para superar o frenesi da
mídia e voltar à sua vida normal.
"Eu senti que eu deveria concordar com uma entrevista", disse ele.
Na crista da onda
A CyberSecurity Ventures, que acompanha a indústria da tecnologia,
estima que os gastos globais com segurança cibernética vão subir para
US$ 120 bilhões este ano. Ele eram apenas US$ 3,5 bilhões em 2004.
Ela prevê que as despesas crescerão entre 12% e 15% anualmente nos
próximos cinco anos.
"Enquanto todos os outros setores tecnológicos são impulsionados pela
redução de ineficiências e aumento da produtividade, os gastos com
segurança cibernética são impulsionados por cibercrimes", disse a
empresa em um relatório de fevereiro.
Depois de muitas análises, Hutchins, um ávido surfista, planeja tirar
férias - viajando para Las Vegas e Califórnia às custas da empresa.
Um palpite sobre o que ele vai fazer lá: surfar. Em ondas do mar, dessa vez.
Fonte: g1.globo.com
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