Previdência, Lava Jato e 2018
dos Três Poderes. No Congresso, com a reforma da Previdência.
No Supremo Tribunal Federal (STF), com as decisões sobre a
Operação Lava Jato. Dos dois dependerá o quadro político das
eleições de 2018. A esta altura, quatro cenários são possíveis.
Para analisá-los, é preciso entender o que está em jogo no
Legislativo e no Judiciário.
Aprovado na Comissão Especial da Câmara, o texto do deputado
Aprovado na Comissão Especial da Câmara, o texto do deputado
Arthur Maia (PPS-BA) para a reforma previdenciária deverá ir em
junho ao plenário, onde precisa de 308 votos para ser aprovado.
O governo tem feito de tudo para garanti-los. Exonerou indicados
por deputados da base aliada infieis na votaçao da reforma trabalhista
e dificilmente vetará a generosa proposta de perdão a dívidas tributárias
que garante o apoio da bancada ruralista.
Apesar dos esforços, ainda persiste a dúvida sobre a aprovação da
Apesar dos esforços, ainda persiste a dúvida sobre a aprovação da
reforma – rejeitada por mais 70% dos brasileiros. Sem ela, desmorona
o programa de ajuste fiscal, fundamentado no teto constitucional para
as despesas públicas. O governo pode desidratar as medidas até
conseguir reunir maioria favorável. Mas há um limite.
O mercado aceita uma redução de 25%, ou até 30%, nas economias
O mercado aceita uma redução de 25%, ou até 30%, nas economias
previstas inicialmente. O governo diz já estar em 24%, de um total
estimado em R$ 793 bilhões. De acordo com o economista Paulo
Tafner, se o texto permanecer como está, já será necessária uma
nova reforma em 2019. Qualquer nova mudança torna o esforço
inócuo. É por isso que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles,
afirmou ontem não haver mais margem para mudança.
Do outro lado da praça, a Segunda Turma do Supremo Tribunal
Do outro lado da praça, a Segunda Turma do Supremo Tribunal
Federal (STF) mandou soltar o ex-ministro José Dirceu, condenado
pelo juiz Sérgio Moro a mais de 31 anos de cadeia pelo desvio de
R$ 17 milhões de reais. Voto vencido na turma, o ministro Edson
Fachin lançou ao plenário da Corte a decisão sobre o habeas corpus
impetrado pelo também ex-ministro Antônio Palocci, que nem
condenado foi.
Brasília foi tomada pela convicção de que o plenário será mais rigoroso
Brasília foi tomada pela convicção de que o plenário será mais rigoroso
que a Segunda Turma e deverá, por uma maioria que poderia chegar a
até sete votos a quatro, manter Palocci preso. Daria, assim, um recado
ao país de que a libertação de DIrceu não significa o fim da Operação
Lava Jato. É impossível, contudo, saber o que se passa na mente dos
ministros do Supremo. Ambos os resultados são possíveis.
Se Palocci for mantido preso, o natural é que continue a negociar seu
Se Palocci for mantido preso, o natural é que continue a negociar seu
acordo de delação premiada, cujo principal alvo seria o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva. Se for solto, cairá por terra a estratégia de
Moro na Lava Jato, em que as prisões preventivas – sempre
fundamentadas no risco de que o acusado volte a delinquir – são
usadas para forçar delações de desvendar novos crimes.
A esta altura é possível qualquer entre quatro cenários, dependendo
A esta altura é possível qualquer entre quatro cenários, dependendo
das decisões do Congresso e do STF: derrota ou vitória na reforma
da Previdência; libertação ou manutenção da prisão de Palocci. Cada
cenário tem implicações diferentes no quadro político.
Em caso de libertação de Palocci e derrota na Câmara, o maior
Em caso de libertação de Palocci e derrota na Câmara, o maior
beneficiado será Lula. Embora seja réu em cinco processos e deva
provavelmente ser condenado em breve, é pouco provável que até
2018 sua sentença tenha sido referendada pela segunda instância.
Isso tornará inevitável o nome de Lula na cédula.
Poupado da delação de Palocci, sua campanha sairia fortalecida.
Poupado da delação de Palocci, sua campanha sairia fortalecida.
De um lado, aproveitaria as libertações dos dois ex-ministros para
reforçar o discurso de que é uma vítima da perseguição de Moro.
De outro, o prolongamento da crise econômica provocado pela
derrota da reforma favoreceria seu discurso de oposição ao
“governo neoliberal”. É o cenário ideal para a vitória do messianismo
lulista.
Se Palocci continuar na cadeia, a campanha eleitoral deverá ser
Se Palocci continuar na cadeia, a campanha eleitoral deverá ser
contaminada pelo resultado de sua eventual delação. Ele seria o
primeiro petista graduado a romper o pacto de silêncio, verdadeira
omertà que vigora no partido. Para Lula, o resultado pode ser ainda
mais devastador que a delação da Odebrecht. Nem uma derrota do
governo na reforma da Previdência e o prolongamento da recessão
bastariam para tirar a corrupção do centro da campanha. Esse é o
cenário ideal para uma candidatura oportunista, como a do deputado
Jair Bolsonaro ou de Ciro Gomes.
Se o governo conseguir aprovar uma reforma previdenciária capaz
Se o governo conseguir aprovar uma reforma previdenciária capaz
de satisfazer minimamente o mercado, a recuperação econômica
tende a acelerar. Não a ponto de haver recuperação sensível no
nível de emprego, mas certamente de sustentar uma campanha
baseada na saúde das finanças públicas e no futuro melhor, resultante
dos sacrifícios que a sociedade se dispôs a fazer. É o cenário ideal
para um candidato governista, seja Henrique Meirelles, Geraldo
Alckmin, João Doria ou o próprio Michel Temer. A escolha do nome
dependerá da força que a Lava Jato manterá até lá.
Caso Palocci seja mantido preso, a segunda instância continue a
Caso Palocci seja mantido preso, a segunda instância continue a
confirmar as decisões de Moro e o STF as referende, os favorecidos
são os nomes externos à política, como Doria ou Meirelles. Caso
Palocci seja solto e, em seguida, o Legislativo consiga aprovar algum
tipo de anistia ao caixa dois, a balança penderá para Alckmin ou Temer.
Em qualquer um dos casos, o ideal para os políticos tradicionais
(inclusive para o próprio Lula) é que o tema central da campanha de
2018 seja a economia, não a corrupção. Por isso, dependem mais do
Supremo que do Congresso.
Fonte: g1.com
Nenhum comentário