Um mês após Operação Carne Fraca, JBS e BRF perdem R$ 5 bi em valor de mercado
Analistas ainda avaliam impactos das investigações nos preços da carne e nas margens de lucro das empresas; novos testes de qualidade foram exigidos por importadores.
Exportação de carnes de frango, bovina e suína, juntas, somaram U$1,34 bilhão, segundo MDIC. (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)
Desde o início da Operação Carne Fraca até a
quinta-feira (13), a JBS e a BRF perderam juntas R$ 5,471 bilhões de seu valor
de mercado, segundo a empresa de informações financeiras Economatica. Apesar de
toda a repercussão negativa do caso que completa um mês nesta segunda-feira
(17), as exportações de carne
brasileira aumentaram em março.
O preço da carne, no entanto, caiu.
No mercado financeiro, a JBS foi a mais penalizada
e perdeu 15,35% do seu valor, que era R$ 32,6 bilhões antes da operação e
encerrou o ultimo pregão valendo R$ 27,6 bilhões. A BRF perdeu 1,45% do seu
valor, que passou de R$ 31,9 bilhões para R$ 31, 5 bilhões.
Os analistas de mercado que acompanham o setor
ainda têm dúvidas sobre como o dano à imagem da carne brasileira poderá
impactar no preço do produto e na margem de lucro das empresas.
“Ainda há muitas questões para serem esclarecidas
para que possamos medir o real impacto dos embargos em volumes, preços, margens
e geração de caixa das companhias do setor”, afirmaram os analistas do Banco do
Brasil, em relatório.
Para o diretor da Associação Brasileira de Proteína
Animal (ABPA), Francisco Turra, a força-tarefa internacional do Brasil para
recuperar a credibilidade dos importadores deve elevar os custos dos
produtores, já que as carnes deverão passar por novos procedimentos preventivos
antes de deixar os portos.
“Exames que antes eram aplicados apenas em amostragem
de carnes, agora serão realizados em todos os produtos. Além disso, a carga vai
demorar mais para sair do país por passar por mais vistorias. Quem paga essa
conta é o exportador”, explica o diretor.
A União Europeia, por exemplo, já anunciou que enviará
após o feriado de Páscoa uma comitiva para inspecionar os frigoríficos
brasileiros.
Operação
Carne Fraca
Há um mês, a Polícia Federal deflagrou a operação
Carne Fraca, que investigou irregularidades em 21 frigoríficos brasileiros.
Eles são suspeitos de pagar propina a fiscais sanitários do Ministério da
Agricultura e a vender carne de má qualidade.
Após o escândalo, alguns países anunciaram restrições
à importação de carnes brasileiras. Alguns dos
nossos maiores compradores, como China e Hong Kong chegaram a suspender
totalmente a entrada de carne brasileira. Um mês depois da operação, a lista de
países com restrição total à importação de carne brasileira inclui 17 países,
como Argélia, Angola e Bahamas, mas nenhum deles figura entre nossos maiores
compradores.
Os grandes compradores, como China, União Europeia
e Emirados Árabes Unidos, mantêm uma restrição apenas à carne dos 21
frigoríficos investigados pela Operação Carne Fraca.
A retomada das importações pelos grandes
compradores ajudou a manter a normalidade na balança comercial. As exportações
de carne brasileira fecharam o mês de março em alta na comparação com o ano
anterior. Segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços
(MDIC), a exportação de carnes de frango, bovina e suína, juntas, somaram
U$1,34 bilhão, o que representa uma alta de 9%.
Na primeira semana de abril, dados até o dia 9 de
abril, a média de venda de carne por dia útil foi de US$ 57,021 milhões. Em
todo o mês de abril de 2016 essa média diária foi de US$ 58,529 milhões.
A Associação Brasileira de Indústrias Exportadoras
de Carne (Abiec), que representa os fabricantes de carne bovina, mantém as
projeções para este ano. “As projeções indicam crescimento das exportações de
carne bovina em 2017, sendo 9% em faturamento e 11% no volume das exportações”,
aponta a associação.
Preços no
mercado
Do dia 17 de março, quando foi deflagrada a
operação Carne Fraca, até o dia 12 de abril, o preço da arroba do boi gordo
passou de R$ 144,72 para R$ 136,44, uma queda de quase 6%, segundo dados do
Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Para o pesquisador do Cepea Sérgio de Zen, o ritmo
mais acentuado da queda, verificado neste último mês, está relacionado à
operação da Polícia Federal, que afetou a produção de parte dos frigoríficos,
principalmente de bovinos.
Zen destaca que existe, nessa época do ano, um
fator sazonal, e por isso, uma redução no preço era esperada, mas em um ritmo
menor do que o verificado. “Os dois fatores combinados levam a esse tamanho de
queda. A expectativa é que a gente não tivesse uma queda tão abrupta”, disse.
“A gente tem uma situação que o mercado espera uma
baixa, então qualquer agitação leva a isso mesmo. É esperado que quando se tem
uma turbulência haja instabilidade” disse.
De acordo com um relatório do banco BTG Pactual, os
revendedores poderão se beneficiar dessa queda de preços do boi. “É importante
notar que os preços do gado caíram 3% em março depois que diversas empresas de
carne bovina decidiram suspender o abate. Com a normalização da demanda de
carne, acreditamos que os revendedores poderão se beneficiar de rápidas
recuperações do preço da carne. Já o preço do gado deve demorar mais para se
recuperar. Isso corrobora com nossa visão de que as margens das indústrias
serão não só preservadas, mas expandidas”, dizem os analistas.
No cenário interno, para especialistas do J.P
Morgan, o escândalo não deve ocasionar mudanças significativas aos volumes do
setor no Brasil já que a JBS e a BRF detêm, juntas, 2/3 do comércio de carne no
Brasil.
“Além disso, nossa análise indica que os
revendedores de carne dessas empresas possuem seus próprios sistemas de
inspeção e nunca dependeram da inspeção federal, então eles não têm receio de
ter comprado carnes estragadas. Acreditamos que essa operação possa, na
verdade, estimular a consolidação da indústria de carne no Brasil”, diz o
relatório.
Reação à
crise
Logo após o início das investigações, empresas
citadas na operação divulgaram notas de posicionamento e anunciaram medidas.
A BRF teve uma de suas fábricas interditada pelo
Ministério da Agricultura, a de Mineiros (GO). A unidade produz carne de frango
e de peru, para exportar e para o mercado interno, e representa menos de 5% da
produção total da BRF, segundo a empresa.
O Ministério da Agricultura detectou água em
excesso nos frangos produzidos pela unidade, o que foi classificado como um
“problema de ordem econômica” pelo secretário executivo do órgão, Eumar
Novacki, sem risco à saúde dos consumidores.
Contatada pelo G1, a BRF afirmou que
não irá se pronunciar.
Já a JBS, que é dona das marcas Friboi e Seara e teve um
funcionário da unidade de Lapa (PR) citado na investigação, não teve nenhuma
fábrica interditada. No entanto, a empresa chegou a suspender o abate por três
dias em 33 de suas 36 unidades de produção de bovinos.
Logo em seguida, a empresa retomou a
produção nesses locais, porém com uma redução de 35%. Na mesma semana, anunciou
férias coletivas em 10 de suas 36 unidades de bovinos: Lins (SP), Naviraí (MS),
Nova Andradina (MS), Anastácio (MS), Senador Canedo (GO), Alta Floresta (MT),
Juína (MT), Diamantino (MT), Pedra Preta (MT) e Tucumã (PA).
As férias coletivas de 20 dias
tiveram início no dia 3 de abril, e podem ser prorrogadas por mais 10. “A
medida é necessária em virtude dos embargos temporários impostos à carne
brasileira pelos principais países importadores, assim como pela retração nas
vendas de carne bovina no mercado interno nos últimos dez dias”, disse a JBS em
comunicado.
Ao G1, a JBS afirmou, em nota, que
"não compactua com desvios de conduta e tomará todas as medidas
cabíveis" e que irá "reforçar seu comprometimento com a qualidade de
seus produtos e reitera seu compromisso histórico com o aprimoramento das
práticas sanitárias”.
Fonte: g1.com
Nenhum comentário