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Vou abrir uma firma de cavar poço. Por Pádua Marques *

Foto ilustrativa 

Agora me deu a doida. Vou juntar a fome com a vontade de comer. E aproveitando que esta semana passada aqui na Parnaíba só se falou em empreendedorismo, eu vou abrir uma firma. Mas não é uma forminha qualquer não. Não é uma firminha dessas de fazer  chinela japonesa, essas coisinhas de artesanato com garrafas pets, de remendar pneu de bicicleta, fazer biscoitos caseiros, fraldas, pote de barro e coisa e tal não. Nada disso.
Eu vou abrir é uma firma especializada, coisa que há muito tempo não se ouvia falar. Uma firma que vai me tirar da titica. Ora se não vai! Uma firma, não me canso de repetir, que vai dar o que falar na Federação das Indústrias do Estado do Piauí, na Federação do Comércio do Estado do Piauí, Associação Comercial e Industrial de Parnaíba, Junta Comercial, Bolsa de Valores Mobiliários, sindicatos, associações de moradores e outras centenas de entidades. Tomara.
E tenho certeza de que vou me dar muito bem. Porque do jeito que está esta tal de




 Agespisa, eu, papaizinho aqui, calculando por cima, em menos de três anos, devo estar morando num espaçoso apartamento na avenida São Sebastião ou nalgum condomínio de luxo na BR 343 ou ainda numa excelente casa com vista pra o morro Branco, na praia da Pedra do Sal. Vou ter no mínimo uma Hillux, casar com uma loura, fazer duas vezes ao ano viagens pra Miami, passar o final de semana inteirinho passeando de lancha no delta tomando uísque com meu amigo Zequinha e jogando dinheiro pra cima. Só onça. Vai ser bom demais, menino.
Tudo por conta da empresa de cavar poço. Vai ser a minha galinha das penas e dos ovos de ouro. Não tem quem me tire da cabeça esta ideia. Não tem IBAMA, Secretaria de Meio Ambiente, Corpo de Bombeiros, ICMbio, prefeitura, nada. Bati o pé e vou porque vou abrir uma firma de cavar poço. Mas não é esse negócio de poço rasinho não. É poço bem fundão, feito aquele lá do cemitério da rua Tabajara. Com uma fundura de pra lá de cinquenta metros ou mais. E dando água pra deixar jumento com o vazio papocando de cheio. Porque jumento é bicho pra beber água.
Porque não queira saber o que é chegar do serviço meio-dia em ponto de ir ao banheiro fazer uma necessidade e na hora de puxar a descarga a mulher avisa que não tem água da rua pra dar a descarga desde a madrugada. Dá raiva. Coisa de paciência. Pois é por isso que esta ideia de abrir uma firma de cavar poço não me sai da cabeça. Não queira você saber a gente procurar uma roupa limpa e em casa se dizer que não tem porque faltou água pra lavar.
Os comerciantes, donos de bares, botecos restaurantes, quitandas, padarias, toda sorte de gente que trabalha com água anda com as mãos na cabeça. Nunca se sabe a que horas vai faltar e por quanto tempo. Da mesma forma ficam outras atividades. Escolas, creches, hotéis, pousadas, oficinas, postos de lavagem de carros. A gente já espera todo que é mês de julho essa ladainha de que o abastecimento está comprometido por causa da demanda pra Luiz Correia e coisa e tal. Já era tempo de se ter dado um fim nessa situação irritante. Quem é que vai abrir qualquer negócio que seja se a cidade de Parnaíba não tem investimentos no seu sistema de abastecimento de água? E a cada dia que passa a coisa vai ficando pior.
E agora pra piorar ainda mais a situação ainda apareceu foi um buraco lá pros lados do Joaz Souza. Um buraco que está é matando gente. Dos três que já caíram, dois morreram. Deve ser alguma obra pra descobrir petróleo, gás natural, turmalina, carvão de pedra, carbureto, gesso, cobre ou ainda a entrada de um esconderijo que vai dar em alguma fortuna escondida pelo Simpilição quando o Fidié correu com ele até Granja, no Ceará. Só pode ser.
E todo que é santo dia ninguém nessa santa empresa não faz nada pra dar uma solução definitiva e muito menos uma satisfação pra este problema que está se transformando numa bola de meia molhada. Ninguém quer segurar.  Pois é por isso e mais aquilo que eu já pensei e já está decidido. Vou abrir uma firma de cavar poço. Que é pra passar na cara dessa Agespisa como é que se trabalha e administra uma empresa no Piauí. Falar em poço, no que foi que deu mesmo aquela buraqueira toda na cidade e que era pra ser a rede de esgoto?

(*) Pádua Marques é jornalista  escritor

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